sexta-feira, 3 de outubro de 2008
A difícil decisão da troca de emprego
Caros leitores, sei que alguns devem ter estranhado que este blog está bem desatualizado! Confesso que ocorreu uma coisa nas últimas semanas que me balançou demais: uma proposta para trocar de emprego.
Este é um post bastante grande, mas se você passa pela indecisão de trocar o emprego, talvez lhe ajude a refletir...
A proposta...
Na semana passada, um colega meu agilista (possivelmente após ler o meu post sobre a negociação dos salários hehe) me enviou um email solicitando o meu currículo, para repassar a uma vaga que ele estava sabendo. Ele queria me indicar. Enviei o currículo, sem muita pretensão. Apesar dos pesares, meu planejamento era permanecer no meu emprego atual por mais um período para depois sim sair.
Recebi o chamado de um dos sócios da empresa para ir até lá. Resolvi aceitar a entrevista, até como forma de ver como eu estava no mercado, enfrentar uma entrevista, etc. Acho que, inclusive, todos nós devemos fazer isso de vez em quando para ver se ainda estamos falando o mesmo idioma... principalmente em casos como o meu, que estava havia 3 anos no mesmo local.
Pesquisei um pouco sobre a empresa na internet, de forma a entender o território que estaria pisando. Para minha surpresa, a empresa tem um bom nome no mercado onde atua (conteúdo para internet, um mix de publicidade/tecnologia/etc) e as referências encontradas eram bastante interessantes.
A primeira entrevista...
Claro, apesar de não ser mais um garoto em busca de estágio, estava bem ansioso e nervoso. Mesmo colocando na cabeça: "Calma, vamos lá sem pretensão nenhuma. Só ouvir a proposta, conversar, etc". Cheguei ao local e me deparei com um dos melhores prédios de uma zona nobre aqui de Porto Alegre. Soube que eles estavam com um andar inteiro. Subi até o local, e me identifiquei para a entrevista. Aguardei alguns minutos e pude ver como o ambiente é despojado e informal. Eu me identifico com locais assim, pois acho que na nossa área de atuação (onde a criatividade e o conhecimento são oriundos de pessoas), precisamos criar um ambiente propício para que essas pessoas se sintam bem e produzam.
Vou dizer que não existe momento pior de uma entrevista do que o momento em que aguardamos. Para pessoas ansiosas como eu, é nesse momento em que a gente tem que respirar fundo, se acalmar e se focar. Digo isso, pois vejo muitas pessoas que ficam realmente preocupadas em acharem coisas do tipo "só acontece comigo". Que nada... a grande maioria, sem exceção, fica nervosa e ansiosa nesses momentos. O grau com que isso acontece é que varia... então se você acha que é excessivo demais, procure alguma ajuda. De verdade :)
Fui chamado então pelo sócio da empresa que havia feito o convite. Fomos até uma das salas de reunião e ele foi vendo o meu currículo e discutimos sobre os meus projetos anteriores, minha formação, minhas possíveis qualidades para a vaga, etc. Eu notei que o fato de eu trabalhar em um grupo de pesquisa acabou gerando uma certa desconfiança. Certamente é pela visão distorcida que todos nós temos de grupos de pesquisa unversitários, mesmo que envolvam empresas como no meu caso.
Ainda assim, conversamos por aproximadamente uma hora. E eu senti que agradei. Inclusive mostrei este meu blog que ele achou bastante interessante. Em seguida ele solicitou que os gerentes se juntassem a nós para conversar e também me conhecerem. Os outros dois sócios também vieram, mas eu acabei não percebendo que eram eles. Daí foi mais uma meia hora de sabatina de perguntas! Desde aquelas clássicas de qualquer entrevista de RH até conversas mais abertas. No total, ficamos em torno de uma hora e meia conversando, e acredito que finalizamos mesmo por já estarmos estourando o horário do almoço.
A impressão inicial que eu tive de todos foi muito boa. Eles me fizeram perguntas para me testar, como quando me solicitaram para contar alguns momentos de pressão que eu havia tido, algumas atitudes que eu havia tido, etc. São perguntas que deixam o entrevistado desconfortável, e com certeza muitos ficam sem ter o que dizer.
No fim das contas, eu acho que fui muito bem. Fiz uma "auto-avaliação" e percebi que ao menos consegui deixá-los na dúvida, pois conversei num nível muito bom com eles, discutimos sobre assuntos importantes como liderança, cobranças, prazos, processos e em todos eu me senti bastante a vontade para falar.
Foi ótimo para mim também, pois eu percebi que sim, eu estava ainda bastante alinhado com o mercado. Muito disso devido a eu gostar muito de estudar, ler e até mesmo ouvir sobre o assunto (livros, listas de discussão, artigos, podcasts, vídeos, etc) além do meu MBA estar me reforçando demais algumas arestas sobre gestão que eu não tinha conhecimento completo.
Sai da empresa bastante satisfeito por saber que havia deixado ao menos eles na dúvida. Mas ainda mantinha o meu planejamento de ficar no meu emprego atual.
A segunda entrevista...
Passados um ou dois dias, recebi outro email do sócio da empresa que havia conversado comigo. Ele me chamou para conversarmos um pouco mais. Aceitei novamente, já imaginando que poderia ser a proposta. Decidi que seria legal saber como eles estariam me avaliando, se eu realmente havia agradado, etc.
Neste período, eu ainda estava bastante convicto de não sair do meu emprego. Fui até lá para ouvir a proposta mesmo. Chegando lá, passei novamente por este momento de nervosismo (um pouco menor), que antecede a entrevista (sim, leitor! Reforço que isso é normal!). Então entramos numa das salas de reunião onde ele e outro sócio me fizeram a proposta. Financeiramente falando, em valores brutos, o valor era bastante superior. Além disso, ele reforçou que se eles não tivessem gostado de mim, eu não estaria ali :)
Agradeci e disse que iria pensar e ainda naquela semana daria o retorno. Mas poxa, aquilo mexeu demais comigo. Receber uma proposta, ainda mais reforçando que eles realmente queriam contar comigo, num local onde eu sempre gostaria de trabalhar, onde as pessoas são realmente valorizadas e possuem um ótimo ambiente de trabalho, onde todos os gestores possuem uma idade próxima da minha e, com isso, possuem algumas idéias e valores próximos dos meus... mexeu bastante.
Sai de lá sem saber ao certo o que fazer. Aquela minha convicção de que seguiria o meu plano não era mais tão forte.
A indecisão... parte 1
A primeira coisa que eu fiz foi conversar com o meu colega no trabalho. Estamos atuando como GP's juntos há mais de 1 ano e meio, mas já trabalhamos juntos há mais de 2 anos. É daquele tipo de colega de trabalho que transcende um pouco para a figura de amigo. Conversamos longamente e ele me disse que também ficaria indeciso.
Onde estávamos, já somos reconhecidos. Todos sabem da nossa capacidade e já nos valorizam. O projeto que esperamos quase um ano para sair, finalmente estaria iniciando em outubro. As tecnologias com as quais trabalharíamos eram excelentes (RFID, GPS, etc) todas elas na "crista" da onda. Temos também uma enorme flexibilidade na carga horária (30hs) e a possibilidade de erguer uma empresa e o próprio grupo de pesquisa.
Por outro lado, a empresa que me fez a proposta já está estabelecida no mercado. Eles transcenderam a luta pela sobrevivência para agora pensarem nos seus processos internos, em como valorizar sua equipe, em como tornar o ambiente agradável... além disso, é uma empresa com uma cultura bastante atual e muito próxima (se não igual) dos valores que eu acredito. Mesmo trabalhando com uma tecnologia sem grandes novidades (web), os projetos envolvem clientes grandes e são projetos de duração de 1 a 3 meses. Nada melhor para um gerente do que participar de projetos onde a gente ENTREGA resultados, ao invés de ficar em projetos looooongos que parecem que não tem fim.
E ai? Lendo isso, você, caro leitor, poderia ter uma decisão? :)
Enfim, eu conversei bastante... e tomei uma decisão (relutante). Ficaria onde estava.
Liguei para o sócio que havia feito a proposta e falei que preferiria manter meu planejamento pessoal e profissional e que iria negar a proposta, mas tentando deixar claro que seria algo temporário. Ele sentiu a minha relutância e insistiu: "Cara, pensa um pouco mais e conversamos melhor no final da semana ok?". Aceitei.
Foi um final de semana do cão! Não deixei de pensar no que fazer por quase nenhuma hora.
A indecisão... parte 2
Resolvi pesar a questão financeira. Foi aí que vi que proporcionalmente falando, valor hora, eu estaria ganhando menos na atual empresa. Então tentei negociar esta variável com a empresa, pois valores são binários... fáceis de mensurar. A empresa acabou mantendo a posição da proposta inicial, mas me explicou sobre alguns benefícios indiretos que eu teria (desconto em plano de saúde, estaciomento e, principalmente, o plano de carreira deles). Dai eu percebi que a segunda entrevista foi tão rápida que eu não havia perguntado diversas coisas! Não sabia quais seriam minha funções e responsabilidades. Nem mesmo o funcionamento deste plano de carreira.
Acabei falando com o responsável pelo setor financeiro e também com um dos gerentes. Ambos foram muito solícitos e me explicaram sobre os assuntos. Com o gerente eu conversei bastante sobre questão dos processos, dia-a-dia, decisões, enfim... percebi que mesmo sendo uma área menos técnica da qual estou acostumado, ainda assim eu teria total capacidade para enfrentá-la.
Fiquei pesando os prós e os contras durante uns quatro dias. Quatro LONGOS dias. Todas as pessoas com as quais eu conversava e consultava se demonstravam indecisos... ora para um lado, ora para outro. Minha namorada me falou que jamais havia me visto tão indeciso em alguma coisa! Percebi como é difícil tomar uma decisão de deixar um emprego onde gostamos e enfrentar um desafio num local onde provavelmente também iremos gostar!
Acabei tomando a decisão de enfrentar o desafio. Mas aí faltava o momento mais temerário para mim. Comunicar os meus chefes.
Avisando da saída...
Durante todo este período de indecisão eu continuei trabalhando. Estávamos planejando o início do projeto e o meu chefe já havia me delegado diversas atividades. A grande vantagem da minha saída neste momento seria que o projeto nem teria equipe definida nem conhecimento adquirido. Tudo o que tínhamos era bem alto nível.
Tomei coragem e bati na porta do meu chefe. Falei que tinha uma notícia bastante ruim, mas que eu havia recebido uma proposta para ir para uma empresa e que eu havia relutado muito, mas havia acabado aceitando após refletir demais. Achei que o meu chefe teria um chilique, ficaria bravo, triste, ou algo do tipo. Não!
Ele ficou surpreso mas conversou na boa comigo. Disse que sabia que em algum momento isso iria ocorrer pois sendo um grupo de pesquisas, ele não poderia me dar estabilidade... temos sempre que ficar na torcida de conseguir projetos como este. E sempre haveria o problema dos valores salariais, já que eu nunca poderia receber um valor real de mercado (incluindo aí os benefícios). Conversamos bastante sobre o que fazer, falei que eu havia solicitado uma semana para finalizar minhas tarefas e ele me pediu para tentar conseguir alguém para a minha vaga. Felizmente já indiquei diversos bons candidatos.
E o principal, a frase que eu queria MUITO ouvir dele: que as portas estariam sempre abertas para se eu quisesse voltar algum dia. Essa frase, por mais "default" que pareça, demonstrou que eu poderia sair de consciência tranquila e também que eu havia feito um trabalho que eles haviam gostado muito. Deixar as portas abertas na empresa onde estamos saindo é uma das melhores coisas que podemos fazer.
Conclusões...
Ufa! Pronto, estava agora de consciência BEM tranquila para comunicar a minha decisão. Agora estou no período da ansiedade para iniciar os trabalhos. Sei que terei que me adaptar a um novo rítmo de trabalho, com um time-to-market bem mais rápido... sei que terei que liderar uma equipe de perfil completamente diferente... enfim, só terei desafios no novo emprego. Mas sem dúvida nenhuma, serão desafios que eu irei enfrentar com a mesma paixão e vontade que eu enfrentei todos até agora.
O que se pode tirar de lição desta minha experiência, tão comum entre muitos leitores daqui?
1) Se você está realmente indeciso, procure pensar a longo prazo. A empresa vai te oferecer oportunidades, desafios e conhecimentos para o objetivo que você tem a longo prazo?
2) Se desligar da sua empresa atual parece difícil, mas não é. Se você é uma pessoa íntegra e ética, seus chefes saberão disso. Precisamos esquecer essa idéia de que iremos "trair" a empresa ao sair. Mais profissionalismo e menos emoção... (eu sei que é difícil, mas precisamos tentar!).
3) Escolha sempre a empresa que mais fecha com os seus valores. Se você é do espírito que busca desafios, busque empresas com um time-to-market mais curto. Se você gosta de flexibilidade, procure empresas mais despojadas.
4) A questão financeira é importante. No meu caso, eu acabei tentando utilizá-la como peso para medida... mas muito por não ter conhecimento do plano de carreira, dos benefícios, enfim. Não se surpreenda se muitos conhecidos aceitarem trocar de emprego para ganhar menos.
5) Não prolongue demais a sua decisão. Não faça como eu, que passei dias me remoendo para tomar a decisão. É terrível e você afeta inclusive a sua vida pessoal e profissional. Por mais difícil que seja, tome uma decisão assim que pesar e obter o máximo de informações.
Ufa... como eu disse, um post enorme. Mas que tem como função auxiliar os possíveis indecisos a refletirem um pouco também sobre esse tipo de decisão :)
Um forte abraço a todos
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9 comentários:
Flavio,
parabéns pela coragem de "abrir o coração", li seu post atentamente até o fim, e já passei por situações semelhantes, mas, por ser empresário, quando recebemos uma proposta para desenvolver um projeto por valores menores em troca de um "futuro promissor"... Sem sombra de dúvida, o desafio do novo projeto na maioria das vezes me levou a dizer sim, algumas vezes por valores incompatíveis com a responsabilidade e resultados ofertados, mas com o passar dos anos a gente vai aprendendo a balancear a emoção com a razão...
Boa sorte em sua nova empreitada, espero que a empresa não crie nenhum obstáculo em você continuar alimentando seu blog (o ambiente, digamos, não-pesquisador, pode não ser tão flexível... ;-)
[ ]'s
Parabens!
Estou aprendendo muito com seus post.
Boa sorte lá! espero que continue postando as experiências pra gente.
Caro Flávio, li seu blog pois estou passando por situação similar, troquei de emprego e para mim esta seno muito difícil aceitar esta mudança na minha vida, é bom encontrar outras pessoas que estão passando por situação similar, eu estou criando um blog também se puder, dá uma passada lá http://trocadeemprego.zip.net.
Flávio, li o que postou,, achei super banaca da sua parte apresentar essa experiencia maravilhosa para todos.
Hoje estou na mesma situação que a sua sou Ger. Adm de uma pequena empresa e recebi uma proposta para um empresa nova, porém já com um mercado ativo,, a questão financeira é o que está realmente fazendo eu mudar de emprego.
Forte Abraço.
Reginaldo
Parabéns cara, estou em uma situação semelhante...
De um lado uma empresa de grande porte me oferecendo um serviço que se encaixa perfeitamente em minha meta profissiona. Do outro lado a empresa onde estou desde estagiario, aprendi muito aqui, tenho muitas amizades e sou reconhecido...
Duvida cruel... mas depois de ler este post me decidi. Valeu
Flávio, li o seu comentário por acaso, também estou precisando trocar de emprego, estou um tanto estagnado " na geladeira" da empresa há sete anos. Preciso ter essa coragem mesmo!
Parabéns pelo seu novo emprego, boa sorte!
Gostei muito do seu post, parece que realmente veio de dentro, procurou ser completamente sincero.
Me ajudou a tomar minha decisão.
Flávio,
Muito bom seu post.
Achei por acaso na net.
Estou vivendo um momento parecido. Recebi ontem uma porposta de emprego, cuja possibilidade de crescimento é grande. A parte financeira é boa em parte. Terei um fixo que irá me sustentar, sem sobrar uma migalha, porém terei comissões, e essas agradam. O fato é que hoje trabalho com esporte, em um clube, sou Gestor, e lá serei um gerente comercial. Viagens todas as semanas, longe de casa, longe da esposa. Atualmente trabalho praticamente do lado da minha casa, estou integralmente com a minha família.
Além disso gosto muito do local em que trabalho e apesar de estar 1 ano, tenho um certo reconhecimento.
Mudar da água para o vinho é muito complicado.
Tenho mais uns 4 dias para dar uma resposta a outra empresa.
Se fosse hoje eu diria Não, mas com uma dúvida eterna.
Grande abraço
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