quinta-feira, 13 de novembro de 2008

O desafio do agile

Este blog não é mais atualizado. Veja o novo blog em: www.agileway.com.br

Atualmente estou tendo pouco tempo para participar mais ativamente das listas. Porém, encontrei este tópico e achei muito interessante. Uma colega da lista teve sérios problemas em implantar o SCRUM em sua empresa. Por quê? Resistência ferrenha dos seus colegas mais antigos.

Este é um dos maiores desafios do agile: mudar a cultura das pessoas. E não pensem que é fácil. A mensagem da Lívia e as respostas dos colegas que se sucedem retratam bem essa situação:

Olá pessoal,

Já aviso que é um post negativo e triste... :(

Tentei implantar scrum onde trabalho. Após muitas palestras, leituras de livros e listas de discussão, tínhamos uma equipe motivada a usar Scrum.
Mas acho que fomos vencidos pela outra equipe, os seres que já estavam aqui antes de nós: os analistas "experientes".

Não nos deram a chance de testar, boicotaram nossas reuniões diárias, ignoraram o sprint backlog, pensaram em fazer um sistema muito além do escopo definido pelo usuário, não estudaram a metodologia e, para melhorar, fecham-se a coisas novas.

E agora estamos aqui. Após 1 mês e meio de trabalho, tínhamos planejado e estimado uma tarefa simples de criação de um cadastro, mas nem terminamos a modelagem. 1 mês e meio para realizar uma modelagem... de um cadastro...

Depois de tanto ponto negativo, pergunto-lhes: O que me resta? Sentar e chorar?

Att,
Lívia. Triste. Muito triste.

--
Lívia Silva Santos

Resposta do Antônio Carlos Zegunis Filho:
Olá, Livia!

Acho que podemos fazer algumas ponderações e quem sabe te oferecer alguma alternativa.

De qual nível da empresa partiu a idéia de utilizar Scrum? Foi do pessoal da área operacional (desenvolvedores, analistas, etc)?

Se sim, as áreas interessadas em $$$ (tática e estratégica) ficaram sabendo do objetivo da troca de metodologia? Acho válido que esse tipo de movimento parta do pessoal operacional, mas é importantissimo que quem manda na conta bancária da empresa não fique de fora, pois a idéia é que esses caras obtenham a maior parte dos benefícios oferecidos pelo Scrum que é o foco em
ROI.

Talvez uma alternativa que você tenha é em caso do pessoal da grana não estar sabendo desse tipo de movimento, preparar um pequeno estudo e fazer uma apresentação que mostre quanto $$$ potencialmente pode ser economizado com essa estratégia nova.

Uma vez que esses caras estejam convencidos e você tenha alguma liberdade pra tocar pra frente o Scrum ai você pode tentar ver se o pessoal das antigas se adapta a nova forma de trabalho ou então trocar cada um que não se adaptar.

Agora...se o pessoal que pensa em $$$ ficou sabendo e mesmo assim a coisa foi pro brejo das duas uma: ou vocês acabaram pisando na bola em um determinado ponto (talvez conversando com a gestão isso seja esclarecido) ou então o pessoal não quer economizar $$$ e sua melhor opção é de fato procurar outro lugar pra trabalhar...

Nem todas as empresas estão preparadas pra esse tipo de mudança, mesmo que só traga melhorias.

Att.,
Antonio Carlos Zegunis Filho

Resposta do Wescley Costa:
Oi Lívia... não acho que seja o momento de sentar e chorar... mas sim de repensar, reorganizar e tentar novamente, porém, da forma certa.

Faz um tempo que venho planejando usar Scrum onde trabalho, mas devido ao que aconteceu com vc, e vários artigos, pdfs, e etc que li por aí, aprendi que existe o momento e lugar certo para se fazer isso.

Na minha opinião, oq aconteceu com vc é normal, vc pode ter se precipitado, na ansiedade de começar logo não esperou o momento ideal, e nisso os tradicionais(analistas experientes) se aproveitaram da situação para derrubar sua iniciativa, e talvez o objetivo deles foi alcançado
né, pois vc já pensa em sentar e chorar, ou seja, desistir.

Quer um conselho? não dê esse gostinho a eles... analise melhor as coisas na sua empresa, molde as coisas pouco a pouco e na hora certa, tente novamente... vá incentivando todos aí que será
melhor para a empresa usar Scrum e quando todos estiverem de acordo, comece...

ou então, consiga montar uma equipe onde todos estejam realmente interessados em adotar as práticas ágeis... oq é a melhor opção. E relaxa... raramente alguem consegue o sucesso na primeira tentativa!

Att,
Wescley Costa

Resposta do Adail Retamal:
Lívia,

Enquanto não estivermos preparados para explicar, claramente:
* Por que mudar?
* O que mudar?
* Para o que mudar?
* Como causar a mudança?

não conseguiremos superar as várias camadas de resistência à mudança.

Tenho usado a TOC (Teoria das Restrições) justamente para me auxiliar nesse processo de convencimento e de transição, pois as empresas estão fartas de mudanças que não necessariamente se traduzem em melhorias. Essa resistência à mudança tem seus motivos... As pessoas não são idiotas (ok, algumas nos levam a pensar que sim)...

Veja um pouco aqui: www.heptagon.com.br/toc

Se puder ajudar em algo, pode me procurar...

Heptabraço,

Adail Muniz Retamal

Resposta do Manoel Pimentel:
Olá Lívia,

Na verdade isso é muito comum (muito mesmo), então talvez seja o caso de você rever a estratégia e tudo aquilo que os colegas da comunidade já falaram nesse tópico.

Mas, permita lhe dar só duas sugestões:

1) Leia o livro: O livro "A quinta disciplina" de Peter Senge, que além de você ver que "Quando mais você empurra, mais o sistema empurra de volta", você verá que talvez sua empresa tenha um sério problema de aprendizagem e que precisa ser resolvido, através de injeções à questões que vão além da proposta do Scrum.

2) E também é importante que você faça as seguintes perguntas:
- Por quê implantar Scrum nessa empresa?
- Existem algum problema que justifique usar Scrum nela?
- E outra, essa empresa, merece usar Scrum (eheheh)???

Grato,
Manoel Pimentel

Então a Lívia se revitalizou um pouco e explicou melhor a sua situação:
Olá pessoal,

Nossa, fiquei mais animada depois das mensagens.

Vou tentar explicar um pouco mais a minha situação. Trabalho em um hospital de clínicas de uma universidade estadual...

Situação atual (que queremos reverter): Os analistas desenvolvem aplicações pro hospital em cobol e db2, usando mainframe. Cada um é dono de um sistema, e todos torcem para ninguém sair de férias. Quando alguém sai, o sistema fica literalmente parado por 1 mês pois ninguém mais quer colocar a mão. Existem ilhas de conhecimento, não há cooperação. Não há o conceito de equipe. Ninguém gosta de expor o próprio código.

Porém, a universidade quis mudar a plataforma de desenvolvimento e escolheu java por N motivos. O primeiro desafio foi informar a mudança. Houve um choque! Passado o choque, fizeram cursos. Mais de um ano depois, ninguém desenvolveu nada na tecnologia nova por não conseguir, não entender e não ter apoio da diretoria da informática. Depois do desastre, começaram a contratar uma equipe para trabalhar com java. Eu fui a segunda pessoa a ser contratada no ano passado. A equipe já conta com 4 analistas e 1 programador novos.

A universidade também tentou utilizar o RUP, mas parece que não deu muito certo. Usaram o RUP para justificar as falhas. Por exemplo: "Fulano, por que você não perguntou isso para o cliente?"... "Ah, porque o RUP não fala que eu tenho que fazer isso!"

O problema: Unir essas duas equipes para trabalharem em projetos novos. Quando nós soubemos como eles trabalhavam, não achamos legal continuar nesse esquema. Além disso, há outro agravante: muitos analistas estão para aposentar em até 5 anos. Ou seja, o conhecimento deles tem que ser passado aos poucos para os outros. A diretoria de informática ainda não tinha pensado nisso. Ano passado, eu e outro analista novo fomos ao Java Brasil e voltamos cheios de idéias. Scrum e XP nos trouxeram um pouco de esperança por alguns motivos, tais como:

-trazer de volta o trabalho em "equipe", acabando assim com as ilhas de conhecimento (pensamos muito na programação em par e em como isso poderia nos ajudar);
-conseguir aumentar nossa produção, já que a equipe antiga demorava até 4 meses apenas levantando requisitos (e para variar, quando entregavam o produto, muito tempo depois, muita coisa tinha mudado e eles faziam os clientes aceitaram do jeito errado mesmo por medo de fazer alterações);
-melhorar o gerenciamento e fazer a diretoria do hospital entender que mesmo que trabalhemos em um órgão público, há SIM gastos e custos;
-melhorar a integração dos novos com os que já trabalhavam aqui para disseminar o conhecimento de java e para nós, os novos, aprendermos as regras do negócio que só eles sabiam...

Explicamos para a diretoria de informática, que comprou a idéia. Chegou inclusive a pagar um treinamento para dois analistas.

O problema que eu já apontei e entendi depois de ler alguns posts: realmente, houve imposição da utilização dessa metodologia. Os analistas que já trabalhavam aqui não acreditam, não apoiam e não querem usar. A diretoria pediu que nos dessem uma chance para tentar testar e ver se realmente funciona. Mas acredito que enquanto houver resistência á tentativa, nada sairá do papel.

Por mais que a gente explique para os outros analistas o que é o scrum e como ele poderia nos ajudar e facilitar nossas vidas em vários aspectos, também tentamos informar os pontos em que talvez ele não se aplique aqui. Mas esses analistas não se interessam, não estudam a metodologia, não se esforçam para fazer funcionar.

Essa modelagem do sistema novo está demorando tanto porque estão agindo como faziam antigamente: querem prever tudo o que o sistema pode ter, aumentar o escopo do projeto, demorar para definir as coisas. Nós queremos feedback, queremos que o usuário aprenda sobre o sistema enquanto o fazemos. Mas todos aqui tem medo, muito medo, de mudanças, de todos os tipos: código, conceitual, paradigma...

Ana, falei da tarefa para o cadastro, mas me enganei. Era realmente uma história. A modelagem é que era uma tarefa. Sei que com certeza erramos em vários pontos na implantação do scrum. Afinal, foi nosso primeiro, e já esperávamos ter que corrigir coisas no meio do caminho. Mas acho que aqui a gente luta por algo não tão no nível do scrum.

Estou chegando à conclusão que o problema não foi só o scrum dar errado. Talvez o problema esteja mais embaixo. :(

Obrigada a todos pelas dicas!

[]s
Lívia

O que eu posso dizer sobre isso? Mudar um processo é difícil. Conscientizar as pessoas é mais difícil ainda. Você poderá ser mal comprendido, poderá ser visto como revolucionário. E com certeza escutará coisas do tipo: "Você não conhece os processos" ou então "Isso não vai funcionar aqui... é outra realidade".

Embora o sentimento seja de desistir, temos que aprender e retomar as tentativas. E mostrar que tudo o que queremos é, na verdade, AJUDAR a empresa a se adequar ao futuro.

No meu MBA um dos meus professores falou sobre empresas orgânicas, que isto é a tendência do futuro para todas organizações de todos os tipos. A maioria dos princípios são aderentes ao do agile. Mas isso é assunto para outro post :)

Abraços

Um comentário:

André Moreira オタク disse...

parabéns pelo conteúdo postado nesse blog