quinta-feira, 19 de junho de 2008

Gestão por competências ... um conceito bem aderente ao agile!

Este blog não é mais atualizado. Veja o novo blog em: www.agileway.com.br

Estou tendo no meu MBA a disciplina de "Gestão de Competências". Estou achando um assunto sensacional! Tudo porque ele é extremamente aderente ao que o agile pressupõe para uma gestão efetiva de projetos, pessoas e objetivos.

Basicamente, o que pressupõe a gestão de competências? A competência de uma pessoa pode ser mensurada com três conceitos indissociáveis, o chamado CHA sendo:

C = Conhecimento (know-how)

H = Habilidade (saber fazer, utilizar o conhecimento para obter resultados)

A = Atitude (pró-atividade, entusiasmo, paixão)

Essas três características são de duas distintas naturezas chamadas de natureza técnica (CH) e natureza cognitiva (A). Podemos facilmente visualizar que a principal carência do mercado atual reside nas natureza cognitivas. Existem muitas pessoas com conhecimento e/ou habilidade... e muitas delas sem atitude para realizar suas tarefas ou, como se diz muito por aí, vestir a camisa da empresa.

As empresas estão percebendo isso. E muitas estão começando a vislumbrar no conceito da gestão de competências, que o maior ativo de qualquer empresa são as pessoas (e eu acrescentaria, o conhecimento - principalmente no mundo da tecnologia). Logo, como criar um ambiente onde o CHA aflore de uma maneira que permaneça na empresa por muito tempo?

A gestão de competências possui três pré-requisitos básicos, como proposta para criar essa cultura:

1 - A capacidade dos gestões e líderes traduzirem a visão de futuro da empresa em um propósito estratégico desafiante e motivador.

Isso parece fácil, mas existe uma nuance muito, mas muito importante a ser considerada: é preciso saber responder a pergunta, que muitos funcionários farão, que é: "o que eu ganho com isso?". Logo, é preciso fazer com que o propósito tenha um objetivo claro e desafiador para todos na empresa... para que todos tenham a real noção do que ganharão atingindo os resultados. E isso só se consegue obtendo um bom feedback de todos os níveis da empresa.

Mas o que seria um propósito estratégico? Basicamente é a tradução da visão de futuro da empresa. Lembram daquela famosa frase "Nossa visão"? Pois bem, ela nunca foi tão importante agora. Mas não é apenas isso. Existem três conceitos que precisam existir nesse propósito: é preciso ter claramente um PRAZO para ser atingido. É preciso ter um SLOGAN que seduza a todos - e que seja fácil de lembrar. E é importante ter uma espécie de PLACAR ELETRÔNICO dos macro-objetivos para saber se estamos atingindo ou não.

(Aqui abro um parênteses. Esses três conceitos não são a cara do agile?)

Um dos exemplos mais clássicos que existe é o caso da empresa japonesa Nissan. Atolada em dívidas, ela foi comprada no início dos anos 2000 pela Renault. Um brasileiro chamado Carlos Ghosn assumiu a presidência e recebeu a missão de reerguer a empresa. Após meses de estudo sobre todos os setores, áreas e níveis da empresa, foi criado em conjunto o famoso slogan da empresa: NISSAN 180.

Além da fácil associação do 180 com a idéia de "dar uma guinada 180 graus" estes três números possuem três objetivos estratéticos da empresa. A missão deles era de, em cinco anos:

1 = Atingir a marca de 1 milhão de carros produzidos e vendidos
8 = Atingir a marca de 8% de rentabilidade ao ano
0 = Atingir o feito de zerar a dívida (que estava na faixa de 15 bilhões de dolares)

Logicamente uma mudança cultural e estrutural ocorreu na empresa. Muitos foram demitidos, estratégias foram tomadas. O Carlos se tornou uma daquelas pessoas que os japoneses (sabidamente nacionalistas) passaram a ver com desconfiança. Mas o fato é que da previsão de atingir o resultado em 5 anos, eles conseguiram fazer isso em TRÊS anos. A empresa saiu do buraco e o Carlos hoje é celebridade no país... apesar de ter assumido a presidência da Renault.

Enfim, notem como foi importantíssimo a criação de um slogan, um prazo e um placar eletrônico (eles desenvolveram isso não só visualmente - com um placar mesmo - como com a utilização de BSC). Se vocês tiverem interesse, procurem a respeito deste case na internet. É sensacional.

2 - O segundo pré-requisito para a criação de uma gestão de competências é a capacidade de estruturar um mapa de competências organizacional. E é aqui onde são identificadas as carências, as necessidades, o como agir e com base nele é feito o plano para atuar.

Não vou detalhar muito isso, mas acredito que se possa encontrar um template deste mapa na internet. A identificação das competências necessárias podem ser observadas pelo próprio slogan (que é o ideal). Por exemplo o caso da NISSAN 180.

Se o "1" indica produzir e vender carros, podemos ver que é preciso ter os melhores operários e processos para construção, e os melhores vendedores para vender os carros (e aqui entra vendas, marketing, alinhamento com o mercado, etc). No caso do "8" de rentabilidade de 8%, podemos visualizar que deve-se ter a certeza de que todos da empresa estejam alfabetizados com conceitos de contabilidade. E por fim, o "0" de zerar a dívida, indica que todos precisam estar cientes de como atuar para reduzir os custos da empresa.

Portanto aí podemos evidenciar diversas necessidades que precisam ser atacadas. Facilmente identificadas pelo slogan da empresa.

3 - O terceiro pré-requisito, e o mais complicado deles, é a capacidade de despertar e manter a postura de ATITUDE COLETIVA na empresa.

Esse sem dúvida é o mais crítico deles. E aqui podemos ver como é importante alinhar os objetivos (a visão) da empresa em algo que beneficie a todos. Se o objetivo representa uma necessidade pessoal do presidente da empresa ou de um pequeno grupo, isso será facilmente percebido pelos demais em pouco tempo. E a atitude coletiva vai cair drasticamente.

Um exemplo bem interessante foi discutido na aula. A AmBev criou um slogan chamado "AMBEV MAIS (A+)". A empresa tinha como meta "tornar-se em 5 anos a empresa de bebidas mais competitiva da face da Terra". Um objetivo bem desafiador. Quem não gostaria de fazer parte de algo grandioso? Ainda assim, muitos perguntaram: "O que eu ganho com isso?". Então foi dito que aqueles que liderassem suas equipes de uma forma a atingir os resultados, ganhariam uma bolada de 14 salários. Foi uma festa! Mas, com o tempo, foi visto que a coisa não era bem assim. A idéia da empresa era estimular a competitividade entre o nível tático. E isso seria medido em um ranking... onde só 60% deles receberiam essa premiação. As nuances existiam, portanto. Ainda assim, porém, a pergunta de "o que eu ganho" estava respondida.

Um detalhe curioso: o dono da AmBev tinha um objetivo maior com isso. Ele queria mesmo era figurar entre os 100 mais ricos do mundo, na Forbes, e poder voltar a morar na Europa. Logicamente se ele dissesse isso na empresa jamais teria o apoio que teve. Já imaginaram uma atitude coletiva para atingir um objetivo destes?

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Essa é a essência da gestão de competências: criar uma atitude coletiva na empresa para atingir uma visão de futuro. O entendimento de que isso só será possível com a correta gestão de pessoas é importantíssimo, pois são estas pessoas que irão empurrar a roda para que o objetivo maior seja atingido.

Eu escutava isso durante a aula e não podia deixar de fazer analogia com o agile. Afinal, ambos os conceitos vão de encontro pois tem o foco na valorização das pessoas e equipes para atingir um resultado.

Pretendo, na medida do possível, aplicar este conceito no meu trabalho. Será uma tarefa difícil, mas eu vejo isso como um norte que eu precisava. Eu já possuia alguns objetivos que pretendia que fossem atingidos tais como transformar o laboratório de pesquisa em referência dentro da universidade. Visualizei na gestão de competências o conceito ideal para aplicar isso com uma mecânica certa e bem definida.

Portanto, meus amigos, se tudo der certo eu começarei a divulgar aqui no blog todo o que tenho feito para implantar e trabalhar com este conceito no meu trabalho. E vamos ver que resultados eu irei atingir. Espero que seja uma nova fonte de lições aprendidas para todos nós.

Se você gosta de agile, tenho certeza que quando procurar na internet um pouco sobre gestão por competências, vai se apaixonar mais ainda. :)

Um abraço

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