sábado, 14 de junho de 2008

A dispensa

Conforme eu mencionei em um post anterior, sexta-feira foi o dia em que eu tive que dispensar um funcionário do grupo. Então como prometido, vou contar como foi.

Cheguei no trabalho por volta das 13h30, pois tinha uma reunião importante às 14h. O funcionário já estava lá. Falei que queria conversar com ele, mais tarde. Como havia gente em volta, falei que era a respeito do projeto.

Então fui conversar com um dos meus chefes e falei da minha decisão. Ele concordou e me listou os trâmites para oficializar isso: cancelar o acesso dele no andar, pegar o crachá, etc.

Pelas 17h, chamei o funcionário para conversar. Então falei, já na sala de reuniões, que eu tinha duas notícias ruins. A primeira, a respeito do projeto em que ele estava trabalhando... que havia sido modificado totalmente e que, portanto, tudo o que ele havia feito não teria mais utilidade. Decidi por falar isso como forma de já deixá-lo desmotivado e para que ele entendesse o motivo da segunda noticia ruim...

Então falei que a notícia era que eu havia decidido pela dispensa dele do grupo. Na hora eu notei que foi aquela surpresa para ele. Ele realmente não esperava.

Comecei a parte chata, a da justificativa. Eu considero "chata" pois por mais que a gente fale, sempre fica a impressão de que a gente está mentindo ou falando por falar... por mais sincero que seja.

Disse para ele que infelizmente os projetos que viriam a seguir iriam exigir uma equipe que tivesse experiência em programação. E que ele não tinha essa experiência ainda. Logo, ele sofreria uma pressão enorme para cumprir coisas que ele não teria o preparo necessário. E infelizmente não teríamos como treiná-lo para fazer as coisas.

Falei que eu estava fazendo aquilo para preservá-lo, por mais estranho que parecesse. Eu comentei que já havia vivenciado essa situação em que ele se encontrava: entrar num emprego num projeto, ver o projeto morrer e dai ficar um "severino" dentro da empresa, ou seja, um aparador de arestas, um faz-tudo sem objetivo concreto. E, ao contrário do que aconteceu comigo, eu preferia cortá-lo agora do que deixá-lo cozinhando nessa situação expondo ele a conflitos desnecessários. Ele não ia aproveitar em nada o período lá.

Ou seja, seria ruim para a empresa/grupo (que não poderia contar com as tarefas dele sendo finalizadas), ruim para mim (que seria o responsável por "não cobrar ele") e ruim para ele (que não conseguiria atingir os objetivos e veria sua auto-confiança ser esmagada).

É claro que eu não consegui falar isso de uma forma tranquila, pois eu estava um pouco nervoso (não no sentido de bravo) e quando fico assim tendo a falar e repetir demais algumas coisas. Mas sempre deixei claro pra ele que ele não estava sendo dispensado por ser incompetente (e ai eu quis ressaltar bastante isso), mas sim por causa do perfil dele não se encaixar nos próximos projetos.

Terminei falando pra ele desabafar, caso tivesse algo para dizer. Alguma reclamação quanto a mim ou aos demais, ou a forma como havia sido conduzido tudo. Ele disse que só havia ficado meio desmotivado no inicio do ano, quando foi o pico da vida de "severino" dele. Eu concordei e reforcei que era exatamente disso que eu queria preservá-lo, novamente. Pois fatalmente ele cairia nessa situação. Então ele disse que fora isso ele achava que tudo havia ocorrido da forma certa, para ele.

Então disse que se ele precisasse de referências ou de alguma ajuda, que podia contar comigo, pois faria o possível para ajudá-lo. Me despedi dele e falei para segunda-feira ele ir até a empresa para encerrar o contrato e fazer a burocracia.

Me despedi e ele voltou para o laboratório. Notei que parecia que ou a ficha dele não havia caído, ou que ele estava se sentindo mais leve... pois ele conversava com os demais como se nada tivesse acontecido. Achei isso um bom sinal, demonstrando que ele não estava bravo ou insatisfeito.

Enfim, afora o meu nervosismo na hora de comunicar ele (afinal, é uma situação ruim de lidar), acho que fiz o que eu podia para amenizar essa situação ruim. E acho que funcionou. É a segunda vez que dispenso alguém... e dessa vez a coisa foi melhor.

Um dos meus chefes aparentemente não gostou muito da situação. Ele estava viajando e só soube quando a coisa já havia acontecido. Mas como ele é mais apaziguador, eu acredito que ele deve estar pensando que "talvez se déssemos outra chance pra ele" ou coisa similar. Mas, como eu disse, eu tenho CERTEZA de que isso só atrasaria a vida do funcionário.

Ele é novo, tem menos de 20 anos. Nós não poderíamos ajudá-lo a crescer ali dentro, então nada melhor do que fazê-lo ter oportunidades melhores e reais em outros locais. Acredito que ele será um excelente profissional e torço para isso. Só que infelizmente temos que tomar esse tipo de decisão, algumas vezes. Temos que pensar na empresa e nos interesses de cada um (meu e dele, por exemplo). Logo, se duas dessas três variáveis dizerem que temos que dispensar alguém, é melhor fazer logo. Adiar, normalmente é a pior decisão de todas.

Um dia intenso... mas com um bom aprendizado.

Abraços

Um comentário:

Ramalho disse...

O Max Gehringer falou sobre isso na última segunda-feira (dia 14): http://cbn.globoradio.globo.com/cbn/comentarios/max.asp