terça-feira, 16 de setembro de 2008

Negociação de salário

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EDITADO:
Estou mudando a minha forma de expressar os valores, pois houve muita confusão (que idéia absurda a minha fórmula). Parece que eu aceitei redução salarial hehe OBS: Nosso salário anterior era bem inferior ao mercado, então os aumentos não são abusivos, pode acreditar.


Hoje tive um dia tenso e importante. O dia da negociação do meu salário. Esse é um dos momentos mais complicados no mundo corporativo. É difícil imaginar que todos entrem na reunião tranquilos de suas posições. O atrito sempre vai ocorrer, embora no meu caso o atrito tenha sido bem pouco.

Anteriormente a reunião, eu e o meu colega havíamos combinado nossa posição. Usei algumas técnicas de negociação para isso.

QUEREMOS: 94% de aumento por 8 horas (X+3)

NOSSO OBJETIVO É: 66% por 8 horas (X)

ACEITAMOS: 55% por 6 horas (X-1)

ACEITAMOS: 38% por 4 horas (X-2)

CAIMOS FORA: 27% ou menos (X-3)

O que isso significa?

"Queremos" indica o valor que iremos começar a reunião. É aquele valor que indica nossa aspiração futura, mas sabemos que será difícil de atingir. "Nosso objetivo" indica o valor com o qual iremos fincar nossa posição. Iremos lutar MUITO para conseguir isso. "Aceitamos" indica aqueles valores um pouco abaixo, que a gente até aceita, mas deixamos claro que não ficamos satisfeitos ou que merecíamos mais. "Caimos fora" são os valores que a gente nem considera... já que a própria empresa está nos desvalorizando.

Eu e o meu colega nos armamos com alguns dados interessantes. Se você quiser, pode baixar na seção de downloads do site as médias salariais de gerentes de projetos e de profissionais de TI (esse último, eu confesso que está bem inflacionado!). Além disso, nos preparamos levantando questões como a nossa formação, nosso tempo de casa e resultados no período, projetos, etc.

Depois, analisamos quais seriam as situações que enfrentaríamos. Sempre consideramos o caso ruim, onde eles ofereceriam 38% por 8 horas. Nossa meta seria tentar chegar o mais próximo do nosso objetivo, que era 66% por 8 horas. Caso não houvesse acordo, iríamos trabalhar na segunda variável, as horas de trabalho.

Então, fomos convocados pelos diretores. Na planilha que enviamos para eles, o valor que sugerimos para nós era de 94% por 8 horas ("queremos"). A idéia era realmente mostrar e justificar as nossas expectativas, que era um valor aderente ao mercado.

Eles nos chamaram. Ao entrarmos na sala, notei que os três diretores estavam meio desconfortáveis... um olhava para o celular, outro mexia as mãos e o outro estava bem irriquieto. Era um sinal de que nosso 94% não seria o oferecido... a dúvida era, qual será o valor então?

Começamos a reunião com os diretores fazendo aquela milonga de "vocês são muito importantes, por isso a reunião é delicada, queremos mantê-los, não é que não vamos valorizá-los... achamos que vocês merecem aquilo que pediram... bla bla bla". Discutimos sobre questões mais macro por alguns minutos... inclusive sobre equipes que comporão o projeto. Discutimos como funcionarão as atividades... enfim, um legítimo balão para justificar valores.

E então, o valor. E eles deram mais uma enrolada e falaram:

"Bem, na atual situação, como temos uma verba de projeto que deverá compor boa parte do RH, o valor que conseguimos chegar para vocês foi de 66% por 8 horas."

Sim, exatamente o LIMIAR INFERIOR do nosso "aceitamos", com a diferença na carga horária (maior do que prevíamos). Na hora já demonstramos um pouco de descontentamento. Comentamos sobre mercado, responsabilidades... mas infelizmente não entramos na questão de formação/experiência (acho que teria sido interessante).

Eles então vieram com a idéia desse valor ir aumentando conforme a produtividade. Foi uma deixa legal para mim.

Fiz a simples questão: "Ok, mas o que vocês consideram produtividade? Como isso vai ser medido? Vai funcionar para a empresa e para o grupo?".

E então dai todos opinaram e deram suas posições, mas claramente NINGUÉM soube responder isso. Eu citei então que até mesmo empresas como AMBEV e GERDAU, que são enormes multinacionais, tem algumas dificuldades para definir indices de produtividade. Além disso, comentei de um projeto em que eu e o meu colega estávamos. Eu e ele saimos de um cliente e no dia seguinte passamos a limpo a reunião, discutimos a proposta e... nada. Só depois de UM MÊS é que os diretores solicitaram o nosso documento para fazer uma proposta ao cliente. Ou seja, como avaliar uma produtividade se o gargalo será sempre da (des)organização da empresa?

O meu colega então resolveu participar falando diretamente sobre os valores. Perguntou se a proposta era final ou se iríamos negociar. E eles falaram que não havia como negociar... aquele valor era o final. Aqui foi um dos momentos mais difíceis da reunião. Havíamos combinado que fincaríamos o pé para tentar subir o salário. Só que acabamos descobrindo que a oferta inicial deles seria de 27%!!!!!! Então eles subiram para 38% pouco antes da reunião. Por MUITA sorte deles, eles não ofereceram esse 27%, pois senão também seria inegociável para nós... iríamos cair fora, com certeza.

O meu colega esperava que eu ficasse ao lado dele para negociar um aumento. Só que para mim, havia ficado bastante claro que eles não aumentariam. Nós iríamos brigar pelo aumento, mas nunca chegaríamos em 66%. Na minha opinião a gente passaria de 38% para 40% ou 42%. E sinceramente, eu não acho que valeria criar um atrito por tão pouco.

Como eles comentaram que a idéia é de que a cada 6 meses / 1 ano ocorra um reajuste, eu assumi para mim o seguinte: dentro de 6 meses irei solicitar o reajuste. E isso que me guiará nas decisões futuras.

Eu resolvi então adequar a proposta ao mais próximo do nosso limiar. 38% por 8h era inviável. Então comentei que nossa proposta seria de 38% por 6h (no início, seria 4h, mas obviamente, nas circunstâncias apresentadas, isso não aconteceria). Foi um momento de desconforto para os diretores, agora... eles ficaram se entreolhando, conversaram um pouco... e aceitaram.

Logo, acabamos fechando por 38% por 6 horas. Só que na minha visão, dentro de 6 meses eu estarei batendo na porta deles, solicitando um reajuste para 66%. E daí sim serei bastante exigente.

Algumas coisas que foram ditas na reunião pelos diretores e que valem a pena serem registrados aqui. Obs: eu não lembro se cheguei a falar alguma coisa que me arrependi... acho que me arrependi de não ter replicado alguma das frases abaixo.

a) "Vocês tem que lembrar que também existem muitas pessoas que tem muito mais experiência que vocês e que estão ganhando mais, no mercado".

RESP: EU NÃO RESPONDI ESSA!!! Nossa, como eu me arrependo. MUITO. A resposta seria simples: Como é?? Eu sinceramente não conheço NINGUÉM em TI do nosso nível que esteja ganhando menos. NINGUÉM. A nossa proposta objetivo era simplesmente a média do mercado. O que eles nos ofereceram era MUITO INFERIOR. Mas aceitamos por motivos alheios, além da redução da carga horária. Ah sim, e por favor... eu também conheço muita gente que está trabalhando de graça. Isso é parâmetro? Numa reunião de TI usar essa frase é dar cinco tiros no pé. E EU NÃO APROVEITEI!!!!

b) "A produtividade não pode ser medida por projetos finalizados. Senão vai gerar conflito... o Flavio vai querer saber porque o colega dele tem mais projetos, ou vice-versa".

RESP: Droga, outra que eu não respondi. Essa foi dita até de forma "inocente", assim por dizer. Pois não é nada que iria ocorrer. Só que, como assim "conflito"? Poxa, eu me senti comparado com uma criança mimada brigando com o irmão por um brinquedo. Mas ok, essa até não me arrependo pois não influenciaria em nada.

c) "O valor de X+3 que vocês querem, se conseguirmos alavancar a empresa, vocês poderão estar recebendo ao final do projeto, daqui 3 anos".

RESP: Opa, essa eu me arrependi também! A resposta é bem fácil também. Senhores, dentro de três anos eu espero estar ganhando 122%!

Enfim... fazendo um balanço da reunião, acredito que não conseguiria definir como ganha-ganha, perde-ganha, ganha-perde. Foi um empate com ligeira vantagem para eles. Só que com a diferença de que dentro de 6 meses iremos bater na porta deles. Para chegar em 66%. E daí seremos incisivos.

Eu considero que fui tranquilo. Estava mais tranquilo do que eu imaginei. Talvez por estar ciente da minha posição e também ver que o nervosismo era DELES e não nosso.

Espero que essa minha pequena história de negociação de salário possa dar uma luz para meus leitores que possam vir a passar por essa situação.

O que eu posso dar como dicas finais são:

1) Tente definir uma estrutura similar aquela que eu descrevi. Queremos, objetivo, aceito e caio fora. Isso vai ajudar vocês a se balisarem nas suas decisões.

2) Procure levantar dados do mercado e dados concretos sobre suas contribuições. Vale número de projetos, resultados alcançados, tempo de casa, habilidades, etc.

3) Com base no cenários do item 1 levante cenários. "Se eles oferecerem isso, o que faço? O que apresento? Como argumento?". Defina principalmente como agirá para os casos terríveis, como eles te oferecerem o "caio fora".

4) Tente de toda a maneira embasar a posição do valor "objetivo". Mas comece sempre citando o valor "queremos/quero". Se você começar direto pelo "objetivo", você corre o risco do seu chefe achar que você está dando o valor máximo e daí nunca vai chegar nele. Use o "queremos/quero" como base de que você merece. E tente ser difícil para aceitar o objetivo. E dai aqui sim, seja bem incisivo. Só baixe disso, se conseguir outras vantagens (como no meu caso, carga horária).

5) Se por ventura o seu chefe chutar o limiar baixo, e disser que é inegociável, daí você poderá tentar arriscar o item 4 ou então negociar somente benefícios e perspectivas. "Ok, aceito temporariamente. Mas dentro de 3/6 meses quero negociar".

6) Seja sempre honesto e transparente. Argumente e questione. A reunião ideal é que seja um GANHA-GANHA, com todos saindo da reunião com a sensação de que estão satisfeitos.

7) E nunca, mas NUNCA leve a reunião para o lado emocional. NUNCA! Evite a todo o custo usar frases como "eu estou me esforçando muito aqui dentro" e afins. Você perde toda a credibilidade... esse foi uma das primeiras coisas que eu e o meu colega cortamos fora da nossa pauta: nada de emocional.

Eu não sou um especialista no assunto, mas com base no que li e que vivenciei hoje, principalmente, posso deixar essas dicas para vocês.

Espero que gostem.

Um grande abraço

7 comentários:

Ivan Sanchez disse...

Acho que tem alguma coisa errada: te ofereceram X e vc fechou por X-2?!

De qualquer forma, fica tambem minha dica:

Se voce considera seu salario abaixo do mercado antes de entrar numa negociacao, ja va preparado para pedir as contas se nao conseguir o que voce quer.

Primeiro porque se seu julgamento esta correto nao sera dificil encontrar um outro emprego. Segundo porque evita a inercia que aflige muita gente de TI: todo mundo reclama, mas continua aceitando o mesmo salario.

Ivan

Giovane Heleno disse...

O Ivan tem razão. A primeira vez que negociei, consegui 20% de aumento depois de 2 anos na empresa. Não fiquei satisfeito (queria pelo menos 30%). 6 meses depois, fui negociar novamente, mas já com 3 propostas debaixo do braço, já que meu objetivo era realmente financeiro. Resultado... mais 63% de aumento, total de 83% de aumento em cima do meu salario antes das negociações.

Anônimo disse...

Excelente post Flávio. Obrigado por compartilhar as suas experiências. Esta questão da negociação de salários é um dos grandes dilemas de qualquer profissional que se julgue capacitado. Parabéns.

Flavio disse...

Obrigado pelos comentários, colegas! Só para ressaltar, tive um aumento de 38%, embora quiséssemos um valor superior. Então o X-2 representa 38%. Deveria ter usado porcentagens para facilitar a visualização :)

Abração a todos

Anônimo disse...

É preciso tomar cuidado c/ o argumento "tempo de casa" pq eu já vi muita gente quebrar a cara ao dizer "Pô, mas eu tenho 3 anos de casa". O chefe pode muito bem dizer que o tempo não é levado em conta, mas sim o desempenho. Além disso poder ser jogado contra vc... "Cara, te dei um aumento há 3, 4 meses atrás e vc tá aqui de novo?"

Outra coisa, qdo vc ouvir um argumento do tipo que vc relatou sobre "ter muitas pessoas c/ mais experiência e que ganham menos (Flávio, acho que vc errou no seu texto, pois escreveu "ganhando mais" e isso é o óbvio, alguém que tem mais experiência do que vc normalmente recebe mais mesmo) no mercado" vc tem as opções de responder da seguinte forma:

1 - colocar quem te disse isso em uma situação desagradável (por isso precisa pensar bem antes de usar esta resposta) perguntando algo como "Vim falar de aumento, devido ao meu desempenho, e vc está me falando de pessoas que sabem mais e recebem menos? Não sei se foi a intenção ou apenas aconteceu sem querer, mas a sensação que fica é a de que estou sendo ameaçado a aceitar o que sugerem senão conseguem alguém que 'sabe mais por menos'". Precisa ter um certo tato p/ fazer isso senão criará um atrito.

2 - usar o mesmo argumento contra quem te diz isso, respondendo "Ok, pode até haver, mas também tem muita gente que sabe menos do que eu e ganha mais. Como não quero utilizar este tipo de parâmetro pq senão teria que comprovar isso, então prefiro me ater em meu desempenho".

Uma dica que eu dou é nunca negociar c/ vc mesmo. NUNCA fale qual é o valor, converse sobre os motivos que demonstram que vc merece um aumento (principalmente que tragam resultados efetivos, mensuráveis, palpáveis) e depois deixe que falem p/ vc o valor que têem em mente. Vai que vc recebe uma proposta bem acima do que iria propor... Isso já ocorreu comigo.

Abraços,

Ricardo.

Flavio disse...

Desculpem, amigos. Refiz a representação dos valores. Fui bastante infeliz nas minhas "fórmulas"... heheh X-2 parece que nós estávamos ganhando menos do que queríamos. Mas era pra indicar que era abaixo do que objetivamos.

Abraços!

Anônimo disse...

É como eu digo: aprender negociação é um conhecimento para a vida, não só profissional. A negociação foi bem pensada, mas a execução poderia ter sido planejada em maior nivel de detalhe e, principalmente, ter tentado antecipar-se às possíveis objeções da outra parte.

Marcio Tierno, moderador do grupo Negociação e Vendas do Yahoo Groups