Num curso que tive de preparação para a prova do PMI, o instrutor comentou que diversas questões estavam sendo situacionais, ou seja, em que o pretendente ao certificado precisa saber COMO aplicar as técnicas, e não apenas saber o que são. E então ele falou algo que martela minha cabeça há algum tempo: "Quando forem responder essas questões situacionais, pensem como um americano".
Pensar como um americano? Sim. Pode parecer estranho, mas existe MUITA diferença entre americanos, europeus, asiáticos (aqui nem se fala!), brasileiros, árabes, etc. Como o colega Emmanuel Brandão contou no tópico em que discutíamos isso:
"Trabalhei em uma grande empresa de soft brasileira e lá, além do coleguismo exagerado pois as pessoas com muito tempo de casa eram cobertas pelos amigos o que na minha opinião prejudica não só a empresa mas também pessoas que querem desenvolver mais que o proposto; acontecia muito de colocar panos quentes na situação, aquela coisa de não achar culpados e etc... Mas eu acho que achar o culpado ou ir fundo para ver o erro não é uma questão de querer ferrar com alguém e sim simplesmente não deixar que o mesmo aconteça novamente!
Um amigo que foi fazer uma implantação de sistema no méxico voltou pasmo que lá é extremamente ao contrário. Em uma reunião o gestor perguntou por que tal coisa não tinha ido para frente e um cara levantou o mão dizendo que a culpa era dele e que ele iria resolver isso o mais rápido possível, sem desculpas e etc... Coisa impensável de acontecer nessa empresa que trabalhei."
Esse relato apenas ilustra a verdade: o brasileiro, por sua cultura, tende a liderar usando muito a técnica dos "panos quentes", "coleguismo", "amizade", etc. Lembram quando nos primeiros posts deste blog eu afirmei que um dos meus erros havia sido tentar conseguir o comprometimento pela "amizade"? Pois é, usei o meu sangue brasileiro. E hoje me arrependo!
A prova do PMI é feita nos EUA. Portanto, o pensamento é americano. Os conceitos de ética, principalmente, são um pouco diferentes. Por isso muita gente tem que pensar "como um americano" durante a prova, ao menos. Isso que falamos de americanos... imaginem os asiáticos? Aquela cultura e educação em que a responsabilidade é sempre o fator principal!
Eu lembro quando o futebol do Japão estava iniciando, e eles chamaram diversos jogadores brasileiros para popularizá-lo (Zico, entre outros). O Dunga, então jogando em um time japonês, contou certa vez que era uma loucura orientar seus companheiros asiáticos. Em uma cobrança de falta, o Dunga, na barreira, falou para os seus companheiros avançarem a barreira para dificultar a cobrança. Os seus colegas falavam: "Não pode! Não pode!". Algo inconcebível aqui no Brasil, né?
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Agora imaginem a situação EQUIPES x PESSOAS. Isso também não está ligado fortemente com o conceito cultural?
Diversos livros que eu tenho lido (fora resenhas ou outros textos) costumam falar que o conceito equipe precisa transcender o conceito indivíduo. O conceito é meio D'Artagnan: "Um por todos e todos por um". Diversos livros afirmam que precisamos tratar uma equipe como uma entidade única. O SCRUM sugere isso, por exemplo.
O fato engraçado é que a maioria destes livros são escritos por americanos. E pensar que eles custaram a aceitar que o problema não eram as pessoas e sim o contexto/ambiente/situação em que elas se encontravam. James C. Hunter, em seu livro do Monge e o Executivo, afirma que o conceito de "lider servidor" foi implantado até no exército americano. Imaginem! O símbolo maior americano tem líderes servidores.
O que eu me questiono (e que gerou um tópico bem interessante de discussão em uma das listas que participo) é até que ponto a EQUIPE deve ser considerada como uma entidade única.
Devemos dar feedback geral? Ou individual?
Devemos dar orientações gerais? Ou individuais?
Devemos disciplinar a equipe? Ou os indivíduos?
Já vi gente falar que equipes precisam sim serem tratadas como entidades (pena que não lembro onde vi isto, faz algum tempo). Dai voltamos à pirâmide de Maslow. Qual são os 5 níveis?
Essa teoria foi desenvolvida por volta da década de 1950. Até hoje é respeitada, exatamente por ter conceitos e bases bem sólidas. Tratando uma pessoa de forma geral, como em uma equipe, não estaríamos barrando os dois últimos passos da pirâmide (ego e auto-realização) ?
Pensemos em um exemplo bem típico, que todos já devem ter vivenciado:
"Mariazinha é uma funcionária exemplar. Realiza todas suas atividades com excelência. Com isso, foi para uma equipe onde haviam outras 4 pessoas. Ela de cada identificou o Luizão, um daqueles funcionários que todos gostam, mas que está sempre atolado de trabalho (por não conseguir finalizar suas tarefas). Os outros três são aqueles que vão com a maré mais forte. Seu gerente, Hélio, é um cara que recém leu livros de gestão moderna de pessoas. Ele agora tratará a equipe como entidade única.
O tempo passa, e Mariazinha começa a ver que literalmente leva a equipe nas costas. Luizão passa parte do seu tempo conversando, fazendo piadas, e até trabalhando de vez em quando. Os outros três se dividem e trabalham e conversam. Mariazinha sente a responsabilidade do projeto e trabalha muito.
É chegado o primeiro "checkpoint" do projeto. O previsto e realizado estão bem próximos. Seu Hélio aplaude a equipe e premia todos pelo ótimo trabalho. Luizão aproveita e conta duas ou três piadas, e todos riem... menos Mariazinha que está se remoendo por dentro.
O conceito de equipe a faz conversar com Luizão. Ela tenta convencê-lo a se esforçar mais, mas ele faz piada da situação e diz que está sempre cheio de trabalho (atrasado). Ela reporta a situação ao Hélio, que promete seguir de perto.
O problema é que a situação se repete... Mariazinha é a heroina do grupo, levando os demais nas costas. Hélio não se importa com a situação e continua tratando todos como equipe única.
Mariazinha pede demissão no terceiro checkpoint."
Sejamos sinceros, essa situação acima é absurda? Irreal? Quem não conhece algo parecido?
O que eu estou querendo defender é: use o conceito de equipe, sim. Mas nunca esqueça que a equipe é composta por PESSOAS. E pessoas tem diferentes vontades, necessidades, caráteres, humores, enfim.
Não deixe jamais de chamar alguém ao lado e conversar particularmente, caso notar algo fora da normalidade. Aplique o feedback pessoal, sempre que for conveniente. Seja um elogio, seja uma repreensão.
Equipes motivadas também dependem de pessoas motivadas.
Mas e você, meu amigo leitor, nunca vivenciou uma situação parecida? Concorda com a idéia deste texto? Comente aí :)
Ufa, desculpem o mega-texto. Espero que tenham gostado!
Um grande abraço e bom final de semana.
PS: a avaliação fica pra semana que vem! Não tive tempo para refletir mesmo.
2 comentários:
Oi Flavio,
Estive em um evento de RH com muitas pessoas dessa área (psicólogos em sua maioria), e pelo que pude ver eles não consideram Maslow como uma teoria útil hoje em dia. Disseram que isso é coisa do século passado... Mas não souberam responder quando eu perguntei qual teoria teria substituído as idéias de Maslow e Herzberg.
Eu não tenho formação nenhuma em Psicologia, mas até hoje não achei um modelo tão útil quanto o de Maslow para entender as motivações, reações e necessidades das pessoas em empresas. Talvez seja por eu ser de TI, e modelo é com a gente mesmo :)
Abraço,
-- Yuri
Olá Flávio,
Passei por várias situações, ao longo dos 20 e uns anos de profissão, semelhantes à vivida pela Mariazinha.
E acho que você tem razão. Uma equipe sempre deve ter critérios gerais mas não se pode esquecer dos individuais ou melhor dos indivíduos.
Posso dizer que quanto maior a diversidade de características individuais numa equipe maior é esfoço do gerente porém os resultados serão muito melhores também.
Um Grande abraço,
Marco Hisatomi
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