terça-feira, 27 de maio de 2008

Clareza nos objetivos



O clima estava tenso desde a última reunião da equipe do projeto do Joãozinho, o gerente técnico. Ele havia percebido que a equipe estava cumprindo as suas tarefas, mas todos os seus três colegas estavam aparentemente bem insatisfeitos com o projeto. Joãozinho achou melhor conversar com o Ricardão, o gerente comunicador, para obter alguma idéia do que poderia ser.

- Ricardão! Me ajude! Me ajude!

Ricardão estava finalizando um email em que parabenizava sua equipe pelo excelente trabalho na apresentação do sistema ao cliente. Ficou paralisado quando viu Joãozinho entrando porta adentro do seu escritório.

- O que houve, meu amigo?
- É a minha equipe. Não sei o que faço. Sério. Estou perdido.
- Sua equipe?! O que poderia haver de errado com a sua equipe? Eles parecem fazer um bom trabalho.
- Eu sei, mas por algum motivo eles não estão satisfeitos.

Ricardão se levantou da sua confortável cadeira, pediu para que Joãozinho mostrasse a área de trabalho da equipe. Eles olharam pela janela, tentando não serem vistos.

- Olhe lá. Eles estão fazendo suas tarefas, não são dispersivos, não sei o que é!
- Não sabe mesmo?
- Não!
- Poxa, Joãozinho. Olhe para a sua equipe de novo.
- O que tem?! - Joãozinho já estava impaciente com esse suspense.
- Meu amigo, eu olho para a sua bela equipe e vejo três pessoas desmotivadas.

Joãozinho parou por um instante.

- Desmotivadas? Pessoas desmotivadas não fazem um projeto andar como está andando.
- Nem sempre, meu amigo.
- Mas eles são uma equipe! Trabalham juntos e nunca reclamaram.
- Nunca? Tem certeza?
- Nunca me falaram nada.
- Oras, a gente sabe que não é preciso falar para demonstrar algum desconforto, não é? Não vou precisar repetir que a comunicação tem na fala e nas palavras só 30% da mensagem passada.

Ricardão levou seu amigo para a sua sala e começou a falar algo que havia lido em um livro.

- Joãozinho, você tem certeza que eles sabem o que estão fazendo? Para que estão fazendo?
- Sim, esse é um projeto que deve implantar um sistema de testes. Eles sabem disso.
- Mas eles sabem como estão sendo avaliados por isso? Eu digo, você tem certeza de que eles estão cientes?

Joãozinho pensou por alguns instantes. Lembrou das reuniões que tiveram. E percebeu que realmente não havia deixado claro quais eram os objetivos do projeto. Joãozinho então resmungou:

- É verdade... tu tens razão.
- Claro, meu amigo. Vou te dizer uma coisa: não existe NADA pior para uma equipe do que fazer alguma atividade sem saber o motivo ou o objetivo daquilo. E pior ainda, sem saber se aquilo será usado ou mesmo aproveitado na empresa.
- Confesso que tu tens razão.
- Imagina o que se passa na cabeça deles, agora: "Que droga, não aguento mais desenvolver esse sistema sem fim. Toda semana novas mudanças... e ninguém parece dar a mínima para o que eu faço". Tu te sentirias motivado assim?
- Óbvio que não. Eu confesso que comecei o projeto na corrida e não sentei e conversei sobre os objetivos do projeto, como ele seria utilizado, etc.
- Isso mesmo! Veja, as pessoas estão praticamente cegas. E não existe nada pior do que isso para um funcionário...
- Por quê?
- Ora, porque com isso ele começa a criar expectativas falsas. Começam a pessoalmente achar que estão sendo sub-valorizados, que estão fazendo tarefas ordinárias, e a bola de neve vai crescendo. Até o ponto que é capaz de alguém pedir demissão por achar que seria demitido.
- Não... eles não chegariam a tanto.
- Claro que chegariam, Joãozinho! São seres humanos! Eles tem expectativas e querem ter uma perspectiva. Querem saber porque fazem aquilo. Experimenta chegar na próxima reunião e fazer uma reunião clara com eles sobre os objetivos do projeto, as perspectivas, etc. Mas te aconselho a antes ouvir o que eles tem a dizer.
- Farei isso.

Passada uma semana, Ricardão casualmente passa na frente da sala de reuniões e percebe a equipe de Joãozinho motivada e dedicada ao projeto. Ele já imagina o motivo, mas quer saber do próprio o que ele fez.

- Simples - diz, Joãozinho - eu fiz a reunião e primeiro falei estava notando que eles estavam desmotivados e queria que eles desabafassem.
- E desabafaram?
- Lógico que não. Eu tive que deixá-los a vontade, comecei a citar: "Minha liderança está boa? A comunicação flui legal?" até que um quebrasse o gelo e falasse. E realmente, TODOS reclamaram do fato de não saberem o motivo daquele projeto. Se sentiam mesmo escanteados... sem rumo.
- E ai?
- Então eu expliquei o projeto, mostrei como ele seria importante para a empresa, falei que nossos chefes tinham grandes expectativas e que se fizéssemos um ótimo trabalho, faria o possível para que todos fossem reconhecidos.
- E pelo visto mudou da água pro vinho.
- Ah, e como! É impressionante como as soluções de problemas deste tipo são tão simples. E geralmente envolve comunicação.

O fato é que Joãozinho conseguiu entregar o projeto. A produtividade não teve significativa mudança (já era relativamente alta), mas a energia e a qualidade do ambiente de trabalho mudaram demais. Todos foram elogiados pelo projeto. Joãozinho acabou percebendo que uma das principais consequências da falta na comunicação é a criação das falsas expectativas. E prometeu a si mesmo que a partir daquele dia, procuraria nunca mais deixar margem para que isso ocorresse novamente.

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