segunda-feira, 19 de maio de 2008

A volta de Ricardão e Joãozinho



Ricardão e Joãozinho eram dois gerentes de projeto na empresa em que atuavam. Eram colegas de anos, desde a epoca do colégio.

Tinham filosofias diferentes de trabalho, o que sempre fez com que o Ricardão e o Joãozinho tivessem uma percepção totalmente diferente por parte de seus chefes e subordinados. Joãozinho, era extremamente técnico, mas pouco comunicativo. Adorava ficar trancado na sua sala fazendo planos, analisando riscos, enviando emails. Ricardão, ao contrário, quase nunca estava na sua cadeira. Andava de um lado para o outro com a equipe, ria com eles, cobrava quando tinha que cobrar, e ainda sobrava tempo para ele fazer outras coisas (como flertar com a assistente do diretor de RH).

Ricardão e Joãozinho almoçavam juntos e num destes almoços, Joãozinho perguntou ao Ricardão qual era a fórmula do sucesso dele. Por que os projetos dele davam sempre certo e os seus quase sempre ficavam à deriva, com um sucesso apenas "parcial". Ricardão não perdeu tempo:

- Antes de mais nada, Joãozinho, quero que tu me digas quantas vezes tu conversou com sua equipe no último mês.
- Olha, tivemos duas reuniões durante o mês, onde ficamos 3 horas debatendo o que deveríamos fazer. Saímos de lá com prazos definidos, mas não fiquei satisfeito pois meu ponto de vista prevaleceu, sem que eles contestassem.
- E por que tu achas que eles não protestaram?
- Olha, eles falaram tantas bobagens que eu tive que me impôr e provar como eles precisavam usar os riscos, o escopo, o prazo e o custo para chegar a uma conclusão.

Ricardão ajeitou a gravata, tomou um gole de sua Coca-cola Zero e falou:

- Joãozinho, você acha que trabalha em equipe ou a equipe trabalha para você?
- Como assim?
- Você é o gerente de projetos, cara! Tu realmente queres que a tua equipe saibas de riscos, custos e afins?
- Deveriam saber...
- Deveriam, sim! Mas quantas vezes tu apresentou isso para eles, de uma forma clara e sucinta?
- Não entendi!
- Fala sério: pensa que eles já tem preocupações técnicas muito grandes, assim como tu tens as preocupações com prazos, riscos, custos, etc. Porém, eu te garanto que eles sabem muito mais do que acontece no dia-a-dia do projeto do que tu.
- Ahh, isso eu duvido.
- Então vou te fazer uma simples pergunta e quero que tu me responda sinceramente.
- Ok.

Joãozinho se acomodou na cadeira, esperando as perguntas. Nada do que o Ricardão poderia perguntar, o Joãozinho não saberia responder. Ricardão jamais leu o PMBoK, não sabe nem ao certo o conceito de "projeto". Ele, alias, odeia ler. O que ele poderia saber que que o Joãozinho não saberia?

- Joãozinho... qual o nome dos cinco integrantes da tua equipe, os quais tu trabalha há 6 meses neste novo projeto?

Silêncio. Joãozinho engasgou e pronunciou alguns nomes... acertou um, e os demais ele realmente não soube responder.

- Está vendo, meu amigo? Você pode ser extremamente técnico, saber muito mais do que eu, sem dúvida. Mas tu já percebeu que tu não dedica quase nada do teu tempo para tua equipe? Tu quase nunca está disponível? Tu quase nunca conversa na fonte com eles? Será que essa tua idéia de que "eles estão sempre errados" é porque tu não sabe o que acontece no dia-a-dia dos seus projetos? E se eles estiverem certos?
- Bem... nunca havia pensado por essa forma.

Ricardão então resolveu propôr ao Joãozinho um desafio. Que durante uma semana, ele seguisse a seguinte rotina: chegasse no escritório, e por 1 hora ele ficaria no seu computador resolvendo seus problemas com planos, prazos, custos, e afins. Então ele passaria o restante do tempo junto à equipe, se comunicando, conversando e mesmo batendo papo. Joãozinho concordou, apesar de duvidar do resultado.

Uma semana passou.

Ricardão convidou Joãozinho para almoçar.

- Meu amigo, você deixou aquela sua sala muito vazia! Aguentou o tranco? Ela não ficou com saudades de você?
- Ha ha ha... de fato, fiz o que tu pediu.
- E... ?
- Bem, tenho que dar o braço a torcer. Eu tive uma visão completamente diferente do que estava acostumado. Percebi quantos problemas minha equipe tinha. Coisas que eu nem imaginava e que eles me disseram que não se sentiam à vontade de levantar nas reuniões, pois eu não dava abertura. Você acredita que eles trabalhavam com versões "trial" do sistema? Ou então que usavam um alicate como chave de fenda? Não, a pior eu não te contei... eles estavam com dificuldades imensas na definição do documento (sabe como é técnico escrevendo né?). Confesso que eu não parei um minuto!
- Excelente, Joãozinho. Tu aprendeu agora porque a maioria dos projetos falham: a falta de comunicação.
- Eu sei... quando aprendi isso, me pareceu algo tão teórico. Eu imaginava "Ah, é só fazer uma matriz de responsabilidades e todos irão seguí-las". Mas notei que as coisas não são bem assim.
- Exatamente. Eu não sei ao certo o que é uma matriz de atividades...
- Responsabilidades.
- Isso! Mas te confesso que delego todas as coisas técnicas para meus subordinados e procuro sempre mantê-los motivados e satisfeitos com o que fazem. Posso não saber compilar um código, mas te garanto que irei me esforçar para auxiliá-los a resolver o problema.

Joãozinho havia aprendido uma lição importantíssima. A comunicação é a alma de um projeto. Não se dedicar a ela, significa ser um anti-lider. Para liderar, precisamos saber do que nossos funcionários precisam. E romper todas as barreiras para que eles trabalhem satisfeitos e sem qualquer problema. Joãozinho completou:

- E o melhor! Agora não só sei o nome dos meus funcionários, como trato todos pelos seus devidos nomes. Que mudança isso traz!



Na saída do almoço, Nádia, a assistente loira e maravilhosa do diretor passou pelos dois. Ricardão abriu um sorriso.

- Nádia, minha querida. Tudo bem contigo?
- Olá Ricardão!! Está tudo ótimo. Obrigado pelo email que me mandaste hoje, fiquei muito feliz!
- Que isso, minha garota. O seu sorriso é meu combustível até o fim do dia.
- Obrigada! Ah, Joãozinho. À propósito, respondendo ao seu email, eu aceito ir ao cinema. Obrigada pelo convite!

Joãozinho acenou e agradeceu. Enquanto ambos admiravam aquela simpática e linda assistente andar em câmera lenta e com os cabelos ao vento (como naqueles clichês de filmes), Ricardão virou-se para o Joãozinho:

- Mas que diabos foi isso?!
- Ora, meu amigo. Você é um ótimo comunicador! Mas precisa ter uma meta e um deadline para cumprir. Eu apenas segui meu instinto prático.
- Joãozinho... se não fossemos amigos, eu te afogava neste copo de Coca-cola Zero. Mas me diga mais sobre metas e deadlines...

E ambos sairam conversando animadamente. A ligação entre eles era forte, seus inconscientes sabiam que um completava o outro e que muitas lições ainda viriam por vir, por ambas as partes.

Nádia e Joãozinho tiveram uma noite sensacional. Mas este não é o foco da nossa história, certo? ;)

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